Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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quarta-feira, 6 de julho de 2011

A receita para descobrir um superdotado :



Pais, professores e médicos precisam de preparo e informação para identificar crianças com talentos especiais



Fonte: Dra. Maria Lúcia Prado Sabatella




http://www.maiscrianca.com/superdotado.htm




Uma criança de pouco mais de um ano, que mal consegue falar, é levada ao Instituto para Otimização da Aprendizagem (Inodap), em Curitiba. Os pais estão surpresos com o bebê, que já sabe todas as letras do alfabeto. Ele aponta para a letra “p” de um joguinho de blocos e diz “papai”. A pesquisadora Maria Lúcia Prado Sabatella, que atende o casal, pega o bloco com a letra “m” e arrasta para o bebê do outro lado da mesa.



“É ‘m’ de mamãe?”, pergunta à criança, que responde: “w”. Só depois de alguns instantes, os adultos percebem que o “m” estava virado de ponta-cabeça em relação ao bebê, que via mesmo um “w”. Assim são os superdotados: surpreendentes. É gente brilhante, em diferentes áreas, cada um desempenhando o seu melhor – bem acima da média.




A consultora e pesquisadora Maria Lúcia Prado Sabatella é mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná, especializada na área de Superdotação e Talento. Delegada do Brasil no Conselho Mundial para Crianças Superdotadas e Talentosas, ela escreveu o maravilhoso e imperdível livro Talento e Superdotação: Problema ou Solução?, pela Editora IBPEX, e fala mais sobre o tema de seus estudos.




O que define um superdotado ?



Superdotado é aquele indivíduo que tem uma ou mais habilidades expressivamente acima da média em algum campo do saber ou do fazer. São pessoas normais, mas não são comuns.




Os superdotados são poucos?





Não há uma estatística brasileira, pois em nosso país não fazemos identificação nas escolas. A Organização Mundial da Saúde estima que 3,5% a 5% da população mundial seja superdotada. No entanto, esse dado se baseia apenas em testes de Q.I. (Quociente de Inteligência), que é um dos instrumentos utilizados na identificação de superdotados e testa somente as áreas acadêmicas da inteligência – lógica e verbal. O Garrincha, por exemplo, foi considerado praticamente um débil mental em um teste de Q.I., mas era, evidentemente, um atleta brilhante, um superdotado psicomotor.




Assim, quando são incluídas as demais áreas da inteligência, que podem envolver habilidades como liderança, capacidade de mediação, argumentação e criatividade, o número de pessoas superdotadas pode subir para cerca de 12%.




Nesse exemplo do futebol, superdotação é o que se chama usualmente de talento?





Na literatura costuma-se encontrar a referência a “superdotados e talentosos” evidenciando que de forma implícita o talento designa habilidades nas artes e atividades corporais, enquanto o termo superdotado é aplicado às pessoas com grandes habilidades intelectuais e acadêmicas. Indivíduos superdotados destacam-se em uma área ou em um grupo delas independentemente da categorização de sua habilidade.





E os gênios?





Geralmente, quando se fala de superdotado, faz-se uma correlação imediata com o gênio. Mas o gênio é aquele que contribui com a humanidade, que perdura por gerações. O gênio quebra paradigmas e conceitos previamente estabelecidos, como o Einstein. Todo gênio é um superdotado, mas nem todo superdotado é um gênio. A genialidade é o nível mais alto de superdotação.





O que os pais devem fazer ao identificar a superdotação no filho?





Tem que procurar bibliografia e ajuda de profissionais especializados, conversar com outros pais de superdotados. No Instituto para Otimização da Aprendizagem, que presido, fazemos grupos com os pais a cada semestre e a troca de experiências é muito rica. Os pais de superdotados se sentem marginalizados e relutam em falar sobre os progressos dos seus filhos. É importante que os pais tenham consciência de que se trata de uma criança especial e que se informem a respeito. Quando nasce um filho com Síndrome de Down, por exemplo, os pais correm a se preparar para essa condição e o mesmo deve ser feito se a criança é superdotada. Isso passa também pela escola, onde os professores devem ser esclarecidos sobre o tema.





As escolas estão preparadas para os superdotados?





Infelizmente, não. Apesar de a Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, tratar da educação especial, não só para as pessoas com deficiência, geralmente enquadradas nesse tipo de educação, mas também para os superdotados. E eles não são tão poucos. Analisando a população escolar, pode-se dizer que, em cada sala de aula, há uma ou duas crianças superdotadas. Muitas vezes, são justamente aquelas que ficam inquietas e fazem bagunça, porque já terminaram as tarefas, ou porque não precisam copiar nada do quadro, já que têm tudo memorizado. O superdotado precisa de mais desafios. O professor pode sugerir atividades que enriqueçam e aprofundem o conhecimento e poderá se surpreender com os resultados.





Um superdotado, na sala de aula, pode favorecer um ensino de maior qualidade para todos os alunos. Se estiverem estudando, por exemplo, os afluentes do Rio Amazonas, o professor pode sugerir que os alunos que tiverem vontade pesquisem e se aprofundem na cultura amazonense, por exemplo. Fizeram isso em uma escola e tiveram que abrir um museu sobre a região Amazônica, tamanha a pesquisa feita pelos alunos. O estímulo serviu para mostrar que todos os alunos produzem mais quando há incentivo e interesse. No entanto, via de regra, o professor, o psicólogo ou o médico não estão preparados para identificar e lidar com os superdotados.





Nem mesmo os médicos?


Muitas das “características” do superdotado são muito semelhantes aos comportamentos apresentados como sintomas da hiperatividade e do déficit de atenção, que estão tão em moda. Se a criança começa a perguntar demais, interrompe a aula, não copia a agenda ou completa tarefas, muitos professores têm indicado que os pais procurem um médico sugerindo que o filho é hiperativo. Não é competência dos professores fazer diagnóstico e essa atitude tem levado muitas crianças apenas curiosas, saudáveis e que aprendem com mais rapidez, a serem medicadas como hiperativas. Tudo acaba sendo resolvido na base da “babá-química”. O aconselhável é investigar o potencial do aluno que apresenta as características de que falamos, antes de se pensar em diagnóstico.





A superdotação é inata? Há alguma relação com a classe social?


Nem uma coisa nem outra. De fato, há um componente genético. Geralmente, indivíduos superdotados vêm de famílias que apresentam essa mesma característica. Mas não é algo inato, já que, se assim fosse, todas as pessoas de determinada família que possui superdotados seriam igualmente brilhantes. E isso não acontece. Há o componente externo, os estímulos, a interação com o meio. E aí eu dou um exemplo de como a superdotação não tem nada a ver com a classe social. Eu já vi uma criança de cinco anos, moradora de assentamento sem-terra, que me explicou corretamente temas como o Produto Interno Bruto do Brasil e a inflação do país. Como ele aprendeu isso? Com as páginas de jornais velhos que seus pais lhe davam para pintar. Mas assim como a inteligência não tem classe social, ela é amoral. Essa criança do assentamento optou pelo caderno de economia do jornal. Mas ele poderia ter preferido ler algo que lhe aguçasse o interesse por coisas erradas. Ou seja, a inteligência pode ser mal direcionada. O Fernandinho Beira-Mar, por exemplo. Ele é brilhante. Tanto que, mesmo preso, continua comandado sua facção criminosa e ninguém consegue impedir isso. Dá para colocar o corpo atrás das grades, mas a cabeça não. Ele é uma das muitas pessoas brilhantes mal direcionadas. Por isso, é importante haver estímulos positivos, sobretudo às crianças superdotadas.



Em tempos de tecnologias como a internet, esses jovens não são superestimulados ?





Tudo o que é exagerado é ruim e isso não tem a ver com a internet ou os videogames. Assim como a criança que não sai da frente do computador, aquela que fica afundada nos livros, sem fazer outra coisa, também não está se desenvolvendo adequadamente. É importante que a família estimule tudo, inclusive atividades que tirem a criança de casa. Mas eu acho que essa geração que cresce entre computadores se desenvolve mais rapidamente e isso é positivo. Eu costumo dizer que, havendo dúvida se a criança é ou não superdotada, o melhor a se fazer é criá-la como superdotada, ou seja, estimulá-la constantemente. Às vezes eu ouço dizerem que uma criança de 4 anos, por exemplo, é muito nova para ir à escola. Como assim? Vá na favela ver se crianças com essa idade já não trabalham como olheiras para os traficantes. Se podem fazer isso, podem ir para a escola!




Se essa criança não for educada da maneira adequada, ela pode perder o talento?





Ela pode não desenvolver seu máximo e isso, sobretudo para alguém com potencial, é frustrante. Por falar em frustração, é importante que os pais não criem expectativas demais sobre a criança. Não é por ser superdotada que ela não pode ir mal escola, ou tirar uma nota baixa. Superdotado não é perfeito. Como eu disse no início, o superdotado não é comum, mas é normal.




Serviço: O Instituto para Otimização da Aprendizagem - Inodap - é uma ONG que atende crianças e adultos superdotados, com acompanhamento familiar e escolar. Informações pelo telefone (41) 3343-3448





Como identificar um superdotado





A superdotação é mais fácil de ser identificada na infância e adolescência. Por isso, pais e professores devem ficar atentos a algumas características que podem evidenciar o brilhantismo dos jovens.





A criança pode ser superdotada se :




1. Apresenta muita facilidade na escola, a ponto de incomodar os professores por não se sentir suficientemente desafiado;



2. Tem uma grande sensibilidade, não é vingativa e não responde a agressões;



3. É muito curiosa e pergunta insistentemente sobre um mais temas específicos;



4. Memoriza com facilidade, especialmente detalhes, como a cor da meia que o avô usava na ceia de Natal do ano retrasado;



5. Preocupa-se muito com tudo, por conseguir analisar as conseqüências das coisas. Se o pai diz que teve uma discussão no trabalho, o superdotado pode chegar à conclusão que vai passar fome, já que o pai perderá o emprego;



6. Faz tudo com muita intensidade, dedica-se por inteiro ao que se propõe, seja nos estudos, seja no amor, por exemplo;



7. Tem um senso de humor adulto, geralmente irônico ou sarcástico;




8. Faz interpretações literais. Se ela está brincando no jardim e a mãe pede que “saia do sol”, pode responder: “mas eu estou na Terra”;




9. Possui um vocabulário extenso para sua idade, pronuncia as palavras com correção e observa a concordância ao falar.

4 comentários:

  1. Esta matéria é diferente de tudo que já vi, em termos de listas que cacterizam os superdotados ou os alto habilidosos.Aqui fica claro que as pessoas precisam parar de achar que o alto habilidoso é um gênio infalível , como os que aparecem em filmes.E a frase que mais me calou foi esta "O superdotado é uma pessoa normal, porém incomum

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  2. Este texto da Maria Lúcia Prado Sabatella é mesmo uma receita muito clara para se descobrir um superdotado. Hoje temos boas informações a respeito que é difícil acreditar que tantos profissionais ainda querem negar essas características. Parabéns Cláudia, mais um excelente post, esclarecendo, desmistificando. Beijo

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  3. Somos suspeitas, para falar do trabalho da Maria Lúcia, não é Ana ? Somos muito fã dela !!!

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  4. Marta : Duas partes do texto eu gostei mais ; a primeira que vc mesmo colocou, a de que superdotados são pessoas normais, porém incomuns.. Esta acho que é a maior idéia que nós temos que trabalhar com a nossa sociedade, para desmistificar a idéia de que superdotados são ET's, nerds, solitários e esquisitos .. Quando as pessoas passarem a conhecer mais de perto estas crianças, perceberão o quanto elas são normais, mas, ao mesmo tempo incomum....

    Outra parte do texto que eu gostei muito foi a de que : Por falar em frustração, é importante que os pais não criem expectativas demais sobre a criança. Não é por ser superdotada que ela não pode ir mal escola, ou tirar uma nota baixa. Superdotado não é perfeito. Como eu disse no início, o superdotado não é comum, mas é normal.

    Esta questão de exigirmos demais de nossos filhos, ou de criarmos muitas expectativas, porque estamos (mal) acostumados com a rapidez e a facilidade de aprendizagem que eles apresentam pode nos trair e nos levar, inconscientemente a cobrar mais deles do que deveríamos... Por isto, pais de crianças PAH's, vamos tomar este super cuidado ! Eu mesma já agi, assim, no passado. Que bom que percebi a tempo de não causar nenhum dano emocional em minha filha e pude colocar isto em prática, desde cedo, com o meu filho !

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