Extraido do site : http://m.g1.globo.com/goias/noticia/2012/12/mae-diz-que-escola-recusa-filho-hiperativo-que-tem-deficit-de-atencao.html
Eu, como advogada, recebo algumas consultas de clientes com problemas similares. Em alguns casos, infelizmente, a única solução que resta aos pais e à criança, para que ela permaneça estudando naquela escola, é através do Judiciário. E, novamente, esbarramos com o moderno fenômeno da Judicialização das Relações Escolares.
Em
Goiânia, mãe entrou na Justiça para assegurar rematrícula escolar. Diretor da
instituição afirma que garoto tem problema de disciplina.
24/12/2012 13h56 - Atualizado em 24/12/2012 13h56
Do G1 GO, com informações da TV
Anhanguera
Uma mãe luta pela permanência do filho
de 8 anos, que sofre do distúrbio déficit de atenção e hiperatividade, na
escola privada onde ele estuda há dois anos, no Setor Bueno, em Goiânia. A mulher,
que é advogada e pede para não ser identificada pela reportagem, foi
comunicada pela instituição que não poderia matricular o filho para o próximo
ano letivo. Inconformada,
ela recorreu à Justiça e ganhou uma liminar que determina a permanência do
aluno no colégio. A escola
recorreu e aguarda a posição do Conselho Estadual de Educação.
“Eles me restringiram na matrícula do
meu filho, alegando um processo disciplinar que teve durante esse ano de 2012
todo. Por causa disso, eles me impuseram uma condição, restringindo a
matrícula, a ascensão do meu filho na escola. Então, o meu problema com a
escola foi esse: eles me negaram a matrícula”, explica a mãe.
A escolha da escola para o garoto ocorreu depois de muita pesquisa e foi
preciso um acompanhamento pedagógico para descobrir que a criança sofre
de distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade.
“Quando ele entrou na escola, ele entrou como um aluno comum. Ele foi um
aluno mediano porque a escola sempre fez o acompanhamento levando em
consideração as necessidades e as dificuldades dele. Quando a escola recebeu o
laudo, atestando o fato de ele ter TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade), então, a escola passou a tratá-lo dentro dos parâmetros
educacionais que são exigidos para um aluno que tem o tal transtorno”, comenta
o diretor-geral da escola, pastor Jonas Cândido Ferreira.
“Como ele tem déficit de atenção, eu penso que talvez afetaria (o
transtorno) mais no convívio escolar. No âmbito escolar. Em casa, ele é uma
criança perfeita”, observa a mãe.
Indisciplina
Mesmo recebendo acompanhamento médico e tomando os remédios, a escola afirma que a criança não se comporta em sala de aula. “Ele é um aluno com um histórico, durante os anos que ele permaneceu aqui, de muita indisciplina. Ele é um aluno agressivo, que não consegue conviver bem com os colegas em sala de aula. Ele não consegue, muitas vezes, conviver com os alunos em sala de aula”, ressalta o diretor.
Já a mãe defende a criança e diz que as atitudes do filho são para se
defender. “É coisa de criança. Eu não vejo ali nada além da normalidade. Ele
sempre se envolvia em brigas, quando era provocado. Por que ele tem algumas
características físicas, que as crianças pegavam no pé dele”, argumenta a mãe.
Segundo a escola, para evitar maiores prejuízos para os outros alunos, a
mãe foi orientada a mudar a criança de escola.
A mãe diz que apenas está lutando pelos
direitos do filho, que quer continuar na escola. “É a vontade do meu filho. Eu
estou escutando ele e ele faz questão. Então, eu estou buscando o bem-estar do
meu filho, buscando os direitos dele. Ele tem os direitos dele. Ele tem o
direito de permanecer naquela escola”, enfatiza a mãe.
Desatenção
A neuropsicóloga Sandra de Fátima Barbosa afirma que, em tese, lidar com o transtorno de déficit de atenção demanda uma formação da equipe da escola, esclarecimento da família, e requer tratamento no campo médico e no campo psicológico. “O transtorno é caracterizado por um padrão de desatenção diferente daquilo que é esperado para o nível de desenvolvimento de uma criança e para a série que ela está. Então, ele é caracterizado basicamente por um padrão de desatenção, que pode ou não vir acompanhando de hiperatividade”, explica.
Sandra observa que o déficit de atenção pode vir acompanhado de
transtorno de aprendizagem, fracasso escolar e influenciar na interação social
da criança.
Na avaliação da neuropsicóloga, uma possível solução para o impasse
entre a escola e a mãe do aluno seria a negociação. “Eu sei que há uma relação com o
direito, inclusive a
mãe já entrou com uma medida na Justiça, mas se essa mãe está buscando essa
medida é porque ela tem algum vínculo com essa escola, que pode ser resgatado,
que pode ser discutido em prol da criança. O principal aí é a criança. Então,
se a criança tem algum vínculo com a escola, independente de questões de
direito, o que deve ser feito é uma negociação, um processo de entendimento
entre a família e a escola, em prol da criança que merece toda a atenção”,
avalia Sandra de Fátima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário